domingo, 1 de junho de 2008

passé composé

O garoto olhava o mundo como quem olha algo extremamente novo e incrível, como quem não tem medo do tempo que pode passar, como uma criança que não sabe o que a palavra “tempo” significa. Talvez nesse ponto todos nós tenhamos inveja desses garotos que levam a vida como nós levamos o nosso momento de calmaria, rodeados de tudo e sem o mínimo de intenção de nos mexermos. A dúvida que resta é muito simples: somos nós pessoas que vivem em função do passado? Seria o nosso futuro algo ligado ao que já aconteceu?

Confesso ter medo desse tipo de idéia. Confesso que me assusta a possibilidade de necessitarmos viver nossas vidas buscando o que o passado nos proporcionou. A cada conversa com amigos, a cada história contada de uma maneira divertida, lembrando a todos que o passado foi engraçado e que mudamos muito nesse ínterim, esse medo aumenta. No entanto, nos erguemos em nossos saltos, em nossas poses de Marlon Brando n'O Poderoso Chefão, na nossa segurança inventada. Acabamos por procurar na nossa vida boêmia uma razão para permanecermos discutindo nossa filosofia de bar, para continuarmos a tentar encontrar nos copos, nos rostos, nas multidões algo que nos faça único e que, ao mesmo tempo, nos faça igual a todos os outros. Sentamos em nossas casas, sozinhos, olhando para a janela, como se dela fosse surgir uma solução para o nosso marasmo. Abrimos um garrafa de vinho qualquer, servimos nossas taças como quem quer servir a sua taça de vida, de música, de emoções. Largamos nosso pessimismo momentaneamente e andamos em busca de uma luz que nos guie, que nos faça viver com a intensidade merecida. Nos jogamos nos braços de desconhecidos que nos convidam a dançar.

3 comentários:

Stigger disse...

E se nosso passado fosse vazio? Tsc...
Melhor nossa pose e nossas filosofias de boteco do que uma casca macilenta e oca, né?

Aliás, já fostes no bar que o Van Gogh abriu ali na frente da redença?

:*

Felipe Johnson disse...

Nós fomos juntos nesse bar! E como nos encontramos nós copos...

A dança é sempre um pouco da hybris que nos toca. Desconhecidos nos fazem dançar quando olhamos pela janela.

Desconhecidos nos fazem dançar quando olhamos pra dentro, também.

DooM disse...

...e é assim que a transição, o círculo, a vida gira em nossas almas.

É assim que termina, sem nem ao menos saber se começou.